O elevador estava vazio quando Thereza entrou. Um quadrado metálico, frio e indiferente, que a envolveu com um silêncio peculiar. Um silêncio que não era apenas a ausência de som, mas a presença de algo mais profundo, quase palpável. As portas se fecharam com um deslize suave, selando-a dentro de si mesma.
No espelho que cobria a parede, ela viu seu próprio reflexo, mas era mais que uma imagem. Era uma outra de si, uma versão ligeiramente distorcida, refletida em um espaço que pareceu, por um segundo, suspender o tempo. Nesse pequeno cubículo suspenso, não havia passado ou futuro. Apenas um agora, que se alongava.
Os números dos andares se iluminavam lentamente, um após o outro. Havia um desconforto naquela espera, uma inquietação sem razão aparente. Thereza nunca soubera lidar com o vazio entre um ponto e outro. Sempre precisou preencher os espaços com pensamentos, listas mentais, ansiedades miúdas. Mas ali, no elevador, não havia fuga. Só havia o silêncio e a sua própria presença.
Ela reparou, então, nos mínimos detalhes: o som quase inaudível do motor que subia, o leve tremor que percorria as paredes, o brilho artificial das luzes. Pequenas coisas que, no fundo, sempre estiveram lá, mas que nunca mereceram sua atenção. Pensou como a vida é composta desses fragmentos imperceptíveis, dessas pausas entre as grandes cenas. Como somos mais o intervalo do que o acontecimento.
Por um momento, Thereza quis que o elevador nunca parasse. Havia algo reconfortante em estar entre destinos, sem a necessidade de ser ou fazer nada. Um espaço de transição onde, paradoxalmente, o que mais importa é o que não está acontecendo. Apenas existir.
Quando as portas se abriram, Thereza hesitou por um segundo. Sabia que, ao cruzar o limiar, voltaria ao fluxo, às demandas e às expectativas. Mas, ao sair, levou consigo a impressão desse vazio raro, quase como um segredo que só se revela no brevíssimo instante em que estamos entre um andar e outro, entre o que fomos e o que ainda seremos.
Deixe um comentário