Estava na fila do supermercado quando ouvi uma conversa. Não era para eu ouvir, claro, mas essas coisas escapam, se insinuam, se oferecem como pequenas histórias à deriva, prontas para serem colhidas. Duas senhoras logo à frente comentavam sobre a previsão do tempo, mas não demorou até que a conversa desviasse para um tema bem mais urgente: o preço das frutas. “A banana subiu de novo!”, exclamou uma delas, como se a fruta fosse um termômetro secreto da economia ou da vida.
Eu me peguei pensando nisso. A trivialidade do preço da banana parecia esconder algo maior. Talvez o fato de que a vida é assim, cheia dessas pequenas variações que moldam o nosso cotidiano mais do que imaginamos. Um aumento aqui, uma promoção ali, e vamos ajustando nossos dias como quem ajusta o volume de um rádio, tentando encontrar a frequência exata que nos traga um pouco de harmonia.
Enquanto a fila avançava, reparei na expressão das pessoas ao redor. Um senhor balançava a cabeça distraído, talvez perdido em pensamentos sobre o que havia deixado para trás no corredor dos enlatados. Uma jovem mexia no celular com uma concentração quase ritualística, como se cada notificação fosse uma chamada para a realidade lá fora. E eu, com o carrinho quase vazio, me sentia parte de uma coreografia silenciosa, onde cada um, à sua maneira, estava lidando com as pequenas tensões do dia.
A conversa das senhoras continuou, agora em torno da durabilidade das maçãs – “Essas de agora estão sem gosto, não duram nem uma semana.” Era um comentário simples, mas carregava um peso que só quem se preocupa com o dia a dia entende. A vida, afinal, também é feita dessas micro-frustrações: a maçã que não amadurece como deveria, o pão que murcha antes do esperado, a banana que encarece.
No fundo, não falamos só do preço das coisas ou da qualidade dos produtos. Falamos das expectativas que criamos, das rotinas que tentamos preservar e da maneira como, mesmo sem perceber, queremos manter o controle sobre o mínimo. Porque o mínimo, quando foge ao nosso controle, faz tudo parecer um pouco mais instável.
Quando chegou a minha vez no caixa, a conversa das senhoras já tinha se dissipado, substituída pelo bip eletrônico dos produtos passando pela esteira. Ao pagar, pensei no quanto esses diálogos casuais, cheios de banalidades, são, na verdade, os pilares invisíveis do nosso cotidiano. É ali, no ordinário, que o extraordinário se esconde. A vida passa por nós, e a gente segue, ajustando o carrinho, medindo o que cabe ou não nas sacolas, e procurando sempre o próximo pedaço de estabilidade, seja ele uma maçã crocante ou uma banana acessível.
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