Outro dia, enquanto mastigava uma salada sem graça (dessas que a gente come mais por obrigação do que por prazer), me peguei pensando: como foi que transformamos a vida saudável em um culto silencioso? Não me entenda mal, cuidar de si é fundamental, mas parece que passamos do ponto. De repente, ser saudável deixou de ser uma escolha para virar uma obsessão disfarçada de virtude. É como se, ao seguir um roteiro invisível – água com limão, suco verde, treinos funcionais, zero açúcar – estivéssemos em busca de uma absolvição para algo que nem sabemos o que é.
O problema é que a promessa de perfeição nunca se concretiza. É uma corrida sem linha de chegada. Quanto mais disciplinados nos tornamos, mais inalcançável o tal equilíbrio parece. E isso não te soa irônico? Vendem a ideia de que ser saudável vai nos proporcionar leveza e liberdade, mas o que ganhamos é um fardo: a ditadura do controle. O pãozinho do café vira um pecado mortal, o happy hour com os amigos é trocado por uma aula de spinning e, no fim do dia, ao invés de satisfação, sobra uma ansiedade silenciosa, aquela sensação de que sempre estamos aquém, de que nunca fazemos o suficiente.
É preciso refletir sobre a armadilha dessa busca incessante. Porque no fundo, o que está em jogo não é só o corpo perfeito ou a longevidade, mas a ilusão de que podemos conquistar uma vida imune ao caos, à desordem, à falha. A tirania da vida saudável esconde um desejo de controle absoluto sobre a nossa existência, como se cada escolha correta fosse nos afastar das incertezas que, inevitavelmente, fazem parte de viver.
Talvez a grande provocação seja aceitar que a vida não se resume a seguir um roteiro ideal. Que o equilíbrio real é menos sobre atingir um padrão e mais sobre saber quando dizer “chega”. Porque, vamos combinar, a saúde que importa mesmo envolve se permitir um pedaço de bolo sem remorso, trocar a academia por um sofá e uma taça de vinho de vez em quando, e aceitar que existir é, por definição, imperfeito.
No fundo, o que nos assombra não é o medo de não ser saudável, mas o pavor de ser comum. Temos uma necessidade quase patológica de ser extraordinários em tudo, até mesmo no autocuidado. Como se a nossa felicidade dependesse de vencer uma competição invisível em que o troféu é ser a versão mais otimizada de si mesmo. Mas a verdadeira inteligência está em perceber que essa corrida é uma ilusão, uma distração que nos afasta do essencial: viver sem tanto peso, com mais fluidez e menos autossabotagem.
No fim, o que realmente nos faz bem é ter a coragem de ser imperfeito. Abraçar a vida com suas dobras, seus excessos e suas faltas, e reconhecer que saúde não é sobre eliminar todos os erros, mas sobre aprender a viver com eles, sem deixar que definam quem somos. Mais do que isso, é saber que a verdadeira liberdade está em quebrar as regras quando elas nos aprisionam, e não em se tornar escravo da própria ideia de perfeição.
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