Ela não sabia exatamente quando começou a sentir o peso. Não era uma dor, nem uma angústia nítida. Era uma sensação que vinha aos poucos, como quem carrega algo sem perceber, até que um dia se dá conta de que está mais curvada do que deveria.
Tudo estava no lugar, como sempre esteve. As manhãs nasciam, os compromissos seguiam, e ela fazia o que era esperado: sorria quando tinha que sorrir, falava o necessário, cumpria o roteiro invisível que o mundo impõe. Até que, naquela quarta-feira, algo dentro dela cedeu.
Estava no carro, o rádio tocando baixo, o trânsito fluindo sem pressa, quando o semáforo fechou e, com ele, os olhos. Não foi um fechamento consciente. Ela simplesmente parou. E o que veio depois foi algo que ela não conseguia nomear. Não era uma emoção definida, nem uma tristeza absoluta. Era um esgotamento, uma quebra silenciosa de tudo o que ela vinha sustentando sem notar.
Sem aviso, uma lágrima escorreu. Era pequena, quase discreta, mas bastou para que ela percebesse o que tentava esconder de si mesma: o peso de ser forte. A força que sempre vestira como armadura agora se revelava uma prisão. Ela, que nunca se permitiu cair, agora estava à beira do colapso e, pela primeira vez, não tentou lutar contra isso. Apenas deixou que as lágrimas viessem.
Não houve soluço, nem drama. O choro era contido, quase calmo, como se o corpo dissesse: “Finalmente.” Porque havia uma liberdade na queda. Uma liberdade em não precisar mais fingir que estava tudo bem, que ela podia carregar o mundo nas costas sem jamais sentir o impacto.
E foi ali, no silêncio do carro, que ela entendeu algo que sempre esteve à espreita, mas que nunca ousou encarar: não era preciso ser forte o tempo todo. A força, ela descobriu, não era sobre resistir a tudo. Não era sobre se manter de pé a qualquer custo. A verdadeira força estava na coragem de se permitir cair. De se entregar ao medo, à fragilidade, ao que nunca foi dito.
O semáforo abriu, mas ela ainda ficou ali, parada por alguns segundos. Não porque estava esperando algo, mas porque, pela primeira vez, não havia pressa. O mundo lá fora podia seguir sem ela por um momento. E naquele instante, ela percebeu que ser humana era isso: aceitar que, às vezes, desabar é o único caminho para, enfim, se reencontrar e….. seguir.
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