Thereza tentava, mas nunca se ajustava às agendas. Segunda-feira, como um ritual forçado, abria o caderno e desenhava a vida em quadrados, horários, compromissos. Um esforço quase ingênuo de aprisionar o tempo. Mas o tempo? Ah, o tempo se ria dela. Escapava pelas margens das páginas, dissolvia-se entre as linhas. Toda vez que ela tentava colocar ordem no caos, a vida se erguia como uma maré imprevista, derrubando as barragens que ela ingenuamente erguia.
Na terça, algo sempre desmoronava. Um imprevisto, uma mudança abrupta, uma chamada que exigia sua atenção. E a rotina que ela tanto cultivava tornava-se areia, fugindo entre os dedos. Thereza sentia-se uma estrangeira no próprio corpo, na própria vida. O relógio continuava a bater, indiferente, mas o tempo não era dela. E ela sabia — no fundo sempre soubera — que a vida verdadeira não se curva a tentativas de controle.
Cada vez que se via desorganizada, sem conseguir seguir a programação que desenhara, vinha uma culpa latente. Como se falhasse em ser humana, ou pior, falhasse em ser civilizada. Havia uma expectativa no ar — não dela, mas do mundo. Que ela seguisse os trilhos, que obedecesse ao tique-taque imposto. Mas toda tentativa de controle era uma violência contra sua própria natureza.
Então, no meio do caos, Thereza sentia um alívio proibido. Uma espécie de traição ao que esperavam dela. Quando os compromissos desmoronavam, algo nela se libertava. A vida, que tanto tentava aprisionar, não podia ser capturada. E talvez, em sua insubmissão, ela própria também fosse mais selvagem do que podia admitir.
No desarranjo dos dias, Thereza encontrava um sentido que não sabia nomear. Era como se o descontrole fosse, na verdade, a sua forma mais honesta de existir. A vida — essa força misteriosa e indomável — não cabia em tabelas. E ela também não.
Deixe um comentário